Gráfico da Construção
Diário da Obra – Setembro 2021
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EM CONFORMIDADE COM O CATECISMO E O CONCÍLIO VATICANO II
A aparente dicotomia entre a arquitetura tradicional e a moderna na construção de templos católicos é um assunto bastante extenso, digno de diversos trabalhos de mestrado em todo mundo.
Sem entrar no mérito de “gosto”, por ser algo subjetivo, levantei os pontos listados no CATECISMO da Igreja Católica e, também, no documento SACROSANCTUM CONCILIUM gerado no Concílio Vaticano II, que tratam da construção e reformas de edifícios sagrados, para mostrar como a Nova Catedral São João Batista, como um todo, foi desenhada e projetada em total conformidade com o que preconiza a nossa Igreja Católica, Apostólica e Romana.
É importante entender a dinâmica e evolução do espaço litúrgico cristão dos primeiros séculos, até à atualidade, para que se consiga compreender qual a formatação do espaço litúrgico das igrejas atuais. Os primeiros cristãos não tinham um lugar específico para o culto, sendo as residências privadas e até mesmo as catacumbas, o local das celebrações (reuniões) no início do Cristianismo. O templo surge como a necessidade de um espaço sagrado para a celebração eucarística, adoração e comunhão com Deus.
Após o Édito de Milão no século IV, a Igreja começou a construir igrejas para o culto público da religião cristã, aproveitando edifícios existentes ou construindo novos de tipo planta basilical, dando assim início à arquitetura religiosa católica. As características construtivas eram a de construir uma basílica que possuísse: simetria axial, planta retangular longa, transepto e a abside (altar). O batistério ficava no exterior das igrejas, isto devido a uma questão teológica que referia que só poderia entrar na igreja quem tivesse sido previamente batizado, como disse São João Batista “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” [João 3:1–5]
A partir do século XI, em plena época medieval, com a introdução do transepto perpendicular ao corpo principal da Igreja, separando assim a nave principal da abside, surgiram as primeiras Igrejas em “cruz”, que alonga a nau para os fiéis separando-a do coro reservado ao clero. O altar-mor ficava bem isolado e elevado, de tal sorte que todos os olhares se dirijam para o sacrifício da missa.
Esta tipologia religiosa perdurou deste a sua origem no século IV até ao XIX, tendo sido a matriz conceitual dos mais diversos estilos arquitetônicos ao longo da história (românico, gótico, renascimento, entre outros), mas nunca alterada na sua génese planimétrica (nave transepto-abside).
Com o Papa Pio X, que exerceu o seu papado entre 1903 e 1914, iniciou-se uma renovação na Igreja Católica, que conjuntamente com o Movimento Litúrgico que se vivia na época, derivou numa série de iniciativas que marcaram de forma decisiva o futuro da igreja. As indicações eram no sentido de aproximar, quer física, quer espiritualmente, os fiéis da liturgia. O episódio do século XX que marca decisivamente a arquitetura religiosa contemporânea é o Concílio Vaticano II, quando a igreja se propõe a caminhar em direção ao acolhimento, definitivo, da verdadeira modernidade arquitetônica. No final deste concílio em 1965 são redigidos os documentos oficiais, dentre os quais o Sacrosanctum Concilium, que é o documento que vai reger toda a atividade eclesiástica em todas as suas dimensões, nomeadamente no referente à nova produção de arte sacra, onde se inclui a arquitetura.
O artigo 123 do Sacrosanctum Concilium diz que “A Igreja nunca considerou um estilo como próprio seu, mas aceitou os estilos de todas as épocas, segundo a índole e condição dos povos e as exigências dos vários ritos… Seja também cultivada livremente na Igreja a arte do nosso tempo, a arte de todos os povos e regiões, desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos edifícios e ritos sagrados”. E mais à frente, o artigo 124 diz “Na construção de edifícios sagrados, tenha-se grande preocupação de que sejam aptos para lá se realizarem as ações litúrgicas e permitam a participação ativa dos fiéis”. Portanto, fundamental na nova arquitetura religiosa pós-conciliar foi o significado eminentemente central que o altar deveria assumir na composição interna do templo, destacando-o como pedra angular na doutrina católica, fomentando a participação de toda a comunidade na eucaristia, assim como a devoção individual e comunitária.
Em paralelo, o CATECISMO da Igreja Católica separa uma seção “Onde Celebrar?” referente aos parágrafos 1179 ao 1186, no qual ressalta que na sua condição terrena, a Igreja tem necessidade de lugares onde a comunidade possa reunir-se: as nossas igrejas visíveis, lugares sagrados. São nestas igrejas que a Igreja celebra o culto público para glória da Santíssima Trindade, ouve a Palavra de Deus e canta os seus louvores, eleva a sua oração e oferece o sacrifício de Cristo, sacramentalmente presente no meio da assembleia. Estas igrejas são também lugares de recolhimento e de oração pessoal. Ao longo desses parágrafos, o CATECISMO enumera alguns elementos FUNCIONAIS importantes no espaço celebrativo, como o altar, o sacrário, a cátedra, o ambão, o batistério, o confessionário e um átrio/portal (um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para o mundo da vida nova, à qual todos os homens são chamados).
Historicamente, temos alguns elementos SIMBÓLICOS que também devem estar presentes em um templo, tais como a Cruz, o campanário e imagens sagradas (de Cristo, a quem Adoramos e da Santa Mãe de Deus, dos anjos e dos santos, a quem veneramos).
A partir daí, concluímos que o edifício deve ser funcional e ao mesmo tempo simbólico. Para ser funcional deve favorecer as ações litúrgicas desenvolvidas na celebração, favorecer o ato de “reunir-se” e facilitar a participação ativa dos fieis. Para ser simbólico deve contribuir para manifestar a ação simbólica e transparecer as realidades místicas que abriga. No projeto de uma igreja, ao trabalhar com a funcionalidade e o simbolismo, gera-se um espaço que contribui para a experiência dos fiéis com o mistério de Cristo, que é o centro da liturgia católica. O templo religioso atual, de igual forma que o construído ao longo da história, deve dar resposta ao homem, tendo que o servir, na vivência da sua fé e na sua expressão simbólica da comunhão com Deus e com a comunidade.
Trazendo esses conceitos à nossa obra de fé, internamente, com a premissa de aproximar a assembleia e o presbitério, de qualquer lugar da nave da igreja, o fiel terá visão direta ao presbitério, num ambiente com iluminação e tratamento acústico adequados para termos um espaço celebrativo com a atmosfera propícia à participação, adoração e oração. Os demais elementos (sacrário, confessionário etc) também foram muito bem pensados e planejados para compor de forma harmônica o espaço como um todo.
Em relação ao externo, a cruz no alto, o campanário ao lado e a imagem de São João Batista em um dos espelhos d`água são símbolos bem conhecidos de nossa fé católica, identificando que aquele monumento de 65 metros de altura é um local sagrado.
Mas e o formato da Nova Catedral, como ainda existem pessoas que dizem por aí “que nem parece uma igreja”?
A arquitetura como fenômeno de comunicação comporta consigo linguagem e, nesse sentido, pode ser considerada como um suporte de mensagens codificadas. Este fluir de formas na produção do espaço sacro é algo que a própria história do cristianismo aponta, aparecendo e desaparecendo, em função dos distintos momentos litúrgicos que, consequentemente, originam diferentes concepções espaciais, sendo todos esses estilos “filhos do seu próprio tempo”. A nova domus ecclesiae, originada pelas alterações litúrgicas do Concílio Vaticano II, tem como objetivo a criação de um edifício de culto que seja prático e funcional, mais do que criar um edifício que se assemelhe a uma igreja, comunicando, desta forma, uma identidade objetiva quanto ao conceito de templo. O templo atual tem a responsabilidade de falar a linguagem adaptada ao homem contemporâneo, nas suas várias dimensões (espiritual, social, cultural, entre outras).
O templo católico e, concretamente, o templo atual existe por e para uma comunidade de cristãos exprimirem a sua fé. Isso implica a consideração dessa arquitetura como um lugar teológico, expressando-se num duplo sentido, por um lado o templo cristão existe porque a Igreja (eclesiologia) se reúne para celebrar os mistérios de cristo (cristologia), sendo estas, as duas realidades que fundamentam a arquitetura cristã, daí, como refere o Doutor Rafael García Lozano “a necessária fundamentação teológica das realizações artísticas, e em concreto as arquitetônicas”.
A catedral é o lugar da cáthedra, a cadeira do Bispo, de onde ele pastoreia seu rebanho. Todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da diocese que gravita em redor do Bispo, sobretudo na igreja catedral, convencidos de que a principal manifestação da Igreja se faz numa participação perfeita e ativa de todo o Povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma Eucaristia, numa única oração, ao redor do único altar a que preside o Bispo rodeado pelo presbitério e pelos ministros.
O desenho da Nova Catedral foi inspirado na MITRA e no SOLIDÉU, que são insígnias episcopais. Ora, nada mais justo e lógico que utilizar esses símbolos episcopais em sua forma.
Fonte: Arquitetura Religiosa pós Concílio Vaticano II – dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura e Urbanismo de Jorge Alexandre Rodrigues Martins